Fórmula selada


Para Roma, com Amor

Para Roma, com Amor não é o melhor de Woody Allen, mas quem se importa? O cineasta, perto da casa dos 80 anos, tem uma filmografia que obedece a máxima: "o pior de Woody Allen é melhor do que o melhor de muito cineasta". E não que Para Roma, com Amor seja ruim, Allen já fez filmes muito mais deslocados em seu potencial, como Scoop - O Grande Furo, por exemplo. A comédia, com referências diretas às grandes comédias italianas, tem marcações características de Woody Allen: personagens desajustados em embate constante com a própria consciência. Mas não há como negar, trata-se de um respiro na recente trajetória do realizador, após o surpreendente sucesso de Meia-Noite em Paris. Com menos ressonância que seu antecessor, Para Roma, com Amor é apenas um alento para os fãs não ficarem sem sua dose anual de Woody Allen. Não é a expressão máxima do diretor, mas é inofensivo e satisfaz durante boa parte da projeção.

Mais uma vez apostando na Europa, muito mais por questões financeiras do que por criatividade voluntária, Allen desta vez ambienta sua história em Roma. Para Roma, com Amor não tem um protagonista específico, ainda que aposte que o personagem de Jesse Eisenberg represente o alter ego do cineasta, sempre presente em suas tramas. Entre as histórias paralelas que Allen traz está  a de um jovem arquiteto que se apaixona pela melhor amiga de sua companheira, um casal de recém casados do interior que avalia contruir uma vida em Roma, um casal americano que embarca na cidade para conhecer o noivo italiano de sua filha e um homem que torna-se celebridade e passa a ser perseguido por paparazzis. Todas as tramas ambientadas em Roma.


Diferente do que fez com Londres e Paris, em Match Point e Meia-Noite em Paris, respectivamente, ou até Barcelona, em Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen não traz razão ou motivo concreto para ambientar seu filme na cidade italiana, a não ser sua clara homenagem a uma linguagem cinematográfica local. Há também uma trama deslocada no mosaico, trata-se daquela protagonizada por Jesse Eisenberg, Ellen Page e Alec Baldwin. O dilema amoroso do personagem de Eisenberg, intermediado pela consciência personificada em Baldwin, ele mais velho, é arrastado.

No entanto, não deixa de ser notável que Allen continue mostrando vigor ao conceber tramas originais ano após ano, sem intervalos muito longos entre seus filmes. Bem, não que seja um esforço hercúleo, afinal seus filmes não requerem grandes orçamentos - nem com o cachê de seu elenco estelar Allen encontra dificuldades, afinal boa parte se dispõe a aceitar menos do que o costume para trabalhar com o cineasta. Mas surpreende no departamento criativo, não sei se outro diretor conseguiria ter tanto repertório e disposição para criar tramas quanto Allen.


Para Roma, com Amor não é brilhante, mas tem o "selo de qualidade" de Woody Allen. Quem poderia ser capaz de criar personagens ou situações tão interessantes quanto a do tenor que só se inspira debaixo do chuveiro ou a do homem simples que recebe jornalistas em sua porta ávido por novidades acerca de seu café da manhã ou suas técnicas de barbear? Somente Woody Allen, que ainda arranja tempo para voltar a atuar, interpretando um tipo que praticamente se transformou em sua marca registrada. E quem se importa se é o mesmo tipo de sempre? Como Charlie Chaplin fez com seu Carlitos ou Marilyn Monroe com suas loiras um tanto quanto fúteis, Allen repete seu icônico personagem, mudando apenas o contexto em que se encontra. E alguém ainda vai dizer que ele não funciona como ator por isso?

Há ainda Penélope Cruz deliciosamente vulgar como uma prostituta (um italiano irrepreensível), Judy Davis estabelecendo mais uma ótima parceria com o próprio Allen como sua esposa e a adorável Alessandra Mastronardi, encantadora como a jovem que se perde do marido e vive um conflito interessante com a fidelidade. Enfim, Para Roma, com Amor é Woody Allen e para quem gosta do cineasta é isso que importa. Não é o Allen de Meia-Noite em Paris, Manhattan, Noivo Neurótico Noiva Nervosa e Crimes e Pecados, mas também não é o Allen preguiçoso de Scoop - O Grande Furo. 


To Rome with Love, 2012. Dir.: Woody Allen. Roteiro: Woody Allen. Elenco: Woody Allen, Roberto Benigni, Jesse Eisenberg, Ellen Page, Penélope Cruz, Alessandra Mastronardi, Alessandro Tiberi, Alec Baldwin, Flavio Parenti, Judy Davis, Alison Pill, Greta Gerwig, Fabio Armiliato, Monica Nappo, Riccardo Scamarccio. 102 min. Paris Filmes.

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Chovendo Sapos: Fórmula selada
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