(Crítica) 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' não desonra o legado de J.K. Rowling


Parecia um mero pretexto comercial - e no âmago da discussão sobre a sua própria existência não deixa de ser -, mas J.K. Rowling conseguiu o que, por um bom tempo, duvidei bastante que realizaria em Animais Fantásticos e Onde Habitam: expandir as possibilidades do universo que cimentara com os livros Harry Potter e que logo se tornou um dos maiores fenômenos cinematográficos dos últimos anos. Baseado no livro homônimo escrito pela própria Rowling sob o pseudônimo Newt Scamander (personagem interpretado por Eddie Redmayne, de A Teoria de Tudo), Animais Fantásticos e Onde Habitam, que traz a sua estreia como roteirista, é uma criação própria da escritora para os cinemas já que na essência o livro funciona como um glossário, citado inclusive pelos personagens de Harry Potter. 

Assim, sob o comando de David Yates (que dirigiu os longas da franquia a partir de A Ordem da Fênix) e sob o controle criativo de Rowling, Animais Fantásticos e Onde Habitam funda-se nas mesmas bases competentes e segue caminhos parecidos àqueles que garantiram a longevidade dos filmes protagonizados por Daniel Radcliffe: oferece diversão na dose certa e apresenta uma série de personagens cativantes em situações que provocam empatia no espectador. No longa, Redmayne vive um magizoologista que chega à Nova York dos anos de 1920 com uma maleta repleta de animais mágicos coletados ao longo de suas andanças pelo mundo. Quando algumas criaturas fogem, o universo dos bruxos fica exposto e a comunidade de magia norte-americana teme que isso possa gerar um conflito entre eles e os trouxas (chamados de não-maj nos EUA). 

Animais Fantásticos e Onde Habitam traz um equilíbrio interessante entre a leveza de uma fita de fantasia e uma forte carga dramática que sugere temas como a intolerância e os perigos de lideranças políticas autoritárias, enredando seu quarteto de personagens centrais formado por Redmayne (afetado, porém mais tolerável que o costume), Katherine Waterston (de Vício Inerente), Dan Fogler (Escola de Espiões) e Alison Sudol (do inédito Between Us) numa relação de empatia gradativa com a plateia. Visto sob a lente clínica de uma análise formal, o filme não acrescenta absolutamente nada ao que já fora realizado anteriormente por Rowling e pela equipe criativa que se envolveu na franquia Harry Potter, porém é nesse terreno da familiaridade  e sob os termos de novas relações de cumplicidade com uma outra história e outros personagens que o longa encontra o seu caminho certeiro em duas horas e alguns minutos de relógio que passam voando.

Além de seguir o caminho que fez a franquia Harry Potter ser o que é, sob engrenagens e propósitos bastante parecidos, Animais Fantásticos nos transportar para um outro universo, fincando âncora no espírito e nas referências do que fora estabelecido, mas sem muita dependência - o que é maravilhoso. Trata-se de algo que promete agradar aos fãs mais enérgicos da franquia e àqueles que tiveram uma relação razoavelmente empática com Harry Potter. Animais Fantásticos localiza-se na órbita do trabalho anterior de Rowling, mas não é subserviente a ele, tem vida própria e muitas camadas a serem exploradas no futuro. Existe um envolvimento genuíno do espectador com o filme, tanto que nem sentimos aquela lacuna saudosista pelo fato dessa nova história não ter Harry, Ron ou Hermione, ainda que eles tenham o seu lugar cativo na memória afetiva da plateia. Scamander e cia dão conta bonito do recado. 


Fantastic Beasts and Where to Find Them, 2016. Dir.: David Yates. Roteiro: J.K. Rowling. Elenco: Eddie Redmayne, Katherine Waterston, Dan Fogler, Alison Sudol, Colin Farrell, Ezra Miller, Samantha Morton, Jon Voight, Carmen Ejogo. Warner, 133 min. 

Assista ao trailer do filme:

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Chovendo Sapos: (Crítica) 'Animais Fantásticos e Onde Habitam' não desonra o legado de J.K. Rowling
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