'A Vigilante do Amanhã' dilui suas questões filosóficas, mas impressiona visualmente


Em A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell, Scarlett Johansson interpreta Major Mira, uma ciborgue (um cérebro humano no corpo de um robô) que em um futuro próximo atua como uma arma letal ao lado de um esquadrão de elite combatendo uma série de crimes, a maioria cibernéticos. A realidade da protagonista do filme tem uma virada quando em uma de suas missões ela se depara com informações que podem levar a um passado muito diferente daquele que lhe fora contado desde a sua criação pela Dra, Ouelet (participação de Juliette Binoche), fazendo com que a heroína entre em conflito com autoridades da organização para a qual trabalha. 

Não há categorização mais apropriada para A Vigilante do Amanhã do que a de adaptação. Não apenas porque o filme é baseado na história de um manga homônimo concebido por Masamune Shirow, que por sua vez gerou uma excelente versão em longa de animação em 1995, mas também porque o diretor Rupert Sanders (de Branca de Neve e o Caçador) e sua equipe fazem do longa live action um válido esforço de traduzir sua história nos padrões hollywoodianos. Nesse sentido, a essência da trama é mantida, mas seu cunho filosófico, questionando, como manda a cartilha das melhores ficções científicas, o que é ser humano frente o avanço das máquinas, se dilui para fazer de sua trama o mais palatar possível a públicos com os mais diversos repertórios e intenções de chaves de leitura sobre tudo aquilo que é oferecido em A Vigilante de Amanhã. Nesse sentido, o roteiro de Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Kruger faz questão de evitar duplos sentidos, esmiuçando todos os acontecimentos em detalhes e diálogos muito claros que não deixam o espectador desnorteado ou com pulgas atrás da orielha sobre o universo adaptado da obra de Masamune Shirow. Tudo é muito didático e simplificado se comparado ao material de origem, o que não necessariamente é um demérito da obra. 

 Isso tudo que foi apontado até aqui, reforço, não torna o filme ruim, o título é uma ótima investida para quem procura entretenimento, mas fica claro que o intuito de evitar dissabores na recepção da obra e o apelo de ter um nome como o de Scarlett Johansson nos créditos fazem com que o longa de ficção-científica ganhe ares de jornada investigativa sobre a origem pré-ciborguiana na protagonista. De reflexão filosófica sobre a humanidade, A Vigilante do Amanhã se transforma numa narrativa convencional centrada no drama pessoal de uma personagem com sugestões aqui e ali de que seus temas extrapolam tudo isso.

Recheado de cenas de ação bem concebidas, tanto do ponto de vista técnico quanto dos esforços físicos de Johansson, que já deu mais do que provas na Marvel de que é um dos grandes nomes femininos da ação hoje em dia, A Vigilante do Amanhã acerta sobretudo quando o assunto é seu departamento de arte e seus efeitos visuais. O longa tem como carro-chefe sua plasticidade e isso pode justificar o valor do ingresso ingresso em um 3D, algo cada vez mais raro hoje em dia. O Japão concebido pela equipe do filme tem texturas, camadas e cores que saltam os olhos e nos remetem a uma versão hiperlativizada do futuro de Blade Runner com direito a hologramas por todos os cenários e concepções emblemáticas como a gueixa robô o próprio visual da ciborgue Major (Johansson), desconstruída constantemente para realizar reparos e em suas arriscadas operações. Portanto, ainda que o resultado não se compare ao material prévio, A Vigilante do Amanhã é uma experiência que traz muitas recompensas ao espectador e ainda oferece uma trama que entretém sem maiores comprometimentos em suas diversas frentes, ainda que ouse menos do que anuncia em diversas passagens.

Ghost in the Shell, 2017. Dir.: Rupert Sanders. Roteiro: Jamie Moss, William Wheeler e Ehren Krueger. Elenco: Scarlett Johansson, Juliette Binoche, Takeshi Kitano, Michael Carmen Pitt, Pilou Asbaek, Chin Han, Danusia Samal, Lasarus Ratuere, Yutako Izumihara. Paramount, 107 min. 

Assista ao trailer do filme: 

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Chovendo Sapos: 'A Vigilante do Amanhã' dilui suas questões filosóficas, mas impressiona visualmente
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